quinta-feira, junho 17, 2010

Paternidade com sinceridade.

Perante a sociedade a mãe solteira é tida como irresponsavel, independente dos motivos que a fizeram assumir uma missão tão complexa sem a existência (ou presença) da figura paterna. Para mim, mãe solteira, vai muito além de ser rotulada, é uma eterna superação dos limites impostos pelo meu corpo e mente, é conseguir lidar com o fato de que não há outro par de mãos disponível no momento da dificuldade. É como ensinar seu filho a andar segurando apenas em uma de suas mãos, no começo ele vai pender para um lado, vai desequilibrar, pode até cair, mas em um determinado momento ele vai aprender a se equilibrar apenas com um apoio, que poderá ser o suficiente, e eu me viro em trinta para que assim seja.

Não, eu não quero criar minha filha sem existência ou presença do pai. Ela tem um pai, pode não ser o melhor (e infelizmente, de fato, não é), mas é o pai que ela tem, com os seus defeitos e qualidades ele é o único ser tão responsável pelo bem estar da pequena Lara quanto eu. E com a sinceridade do mundo em minhas mãos, essa é a primeira vez que eu consigo explicitar via palavras o quanto é difícil a minha missão de ser mãe solteira, de ter a ajuda da minha mãe (extremamente amorosa e adorável com a Lara), mas quase sempre me impondo condições, e de como isso tudo tem me feito mal desde o dia em que eu me vi abrindo mão sozinha de uma vida para cuidar de outra vida que não era para depender apenas de mim.

Não, mais uma vez, eu tenho que deixar claro que aqui não se trata de namoro, amor, relacionamento, tudo isso passou, e não existe nenhum espaço para esse tipo de sentimento. Eu falo como mãe, me irrito como mãe, espero como mãe e também choro como mãe, como a mãe de Lara, filha de Ananda e Rafael. Como colocar na cabeça de um ser que ele tem responsabilidades? deveres? obrigações? Não há fórmula, muito menos esperanças de que haja uma mudança radical na vida de quem ficou em cima do muro em um momento tão único como a paternidade. Tão difícil como saber o quanto minha filha vai sofrer é ter sofrido durante tantos anos com o descaso e indiferença do meu pai, que me ama, mas não sabe demonstrar, nem se esforça para tal.

Precisava desabafar, colocar para fora tudo que está preso na minha garganta. Infelizmente não tenho o poder de mudar os fatos, nem a cabeça das pessoas, mas adoraria ter o poder de confortar e ser suficientemente mãe e pai para a minha pequena gigante. Espero que o dia em que ela perceber o mal causado pela ausência, ela também compreenda que as pessoas têm diversas formas de amar, o que significa que somos seres plurais e únicos, e a indiferença, por pior que seja, pode ser a única forma de amor reconhecida por certos seres humanos limitados no amor.

Só somos capazes de dar, o que temos ou o que recebemos.

2 comentários:

Sandra disse...

Ananda

sei bem o que é isso e imagino como se sente.
meu pai, sempre foi um pai ausente, ainda quando morava em casa, depois entao... affe... melhor nem lembrar...
hoje ele já não habita este mundo conosco, sinto a falta ele, mas costumo dizer, que não é porque ele morreu que seus erros foram apagados...

Com meus filhos, embora eles tenham um pai, te parafraseando, não é o melhor pai do mundo.
Mas ele compartilha com eles os momentos, mas sei que eu por trás o "ensino" a ser pai, quer seja quando digo do que eles precisam, quer seja quando digo do que eles nao gostam...

Eu quero muito que meus filhos tenham a figura do pai. Como advogada vejo todos os dias os pais se degladiando e as faiscam sobrando para os pequenos. na minha historia quero que seja diferente, nem que seja eu a "ensinar" o pai a ser pai.
Por mais incrivel que possa parecer, foi preciso eu me separar, para ele "ver" as crianças...

Mas isso é outra historia....rs
e este comentário, quase virou uma carta...rs

apenas me solidarizo contigo, sei o quanto é difícil e complicado, ser as duas figuras ao mesmo tempo...

beijo no coração

Tatiane Garcia disse...

Ananda...pai ausente é um problema sério, mas olha, uma mãe firme como vc (como a minha é pra mim) vai ser sempre suficiente pra formar uma criança com caráter e valores!
é difícil e cansa eu sei...mas vá em frente...mostre sempre a ela os fatos, sem deixar que suas mágoas virem mágoas dela. Deixe que ela assim que puder, tire suas próprias conclusões. Sobre ter ficado em cima do muro, quem perdeu e vai perder mto mais, foi ele!!!