sexta-feira, outubro 09, 2009

Eu não falo 'Eu te amo' porque sou gordo.

Eu não falo "te amo" porque sou gordo. E porque sou homem. E porque tenho noção. ‘Eu te amo’ é um desses momentos solenes que só devem ser trazidos à tona quando temos a noção exata de que nossa vida está para mudar. Em uma época onde tudo parece ser mais rápido e evoluído do que realmente é, temos a tendência de apressar as coisas, contornar ‘bons sensos’, vivenciarmos experiências cinematográficas...

Não há muito nessa vida que seja mais tocante/angustiante/desconcertante que a troca de olhares entre dois seres que se complementam. Em toda a sua condição de distintos, imperfeitos, inoportunos, mas, juntos, deixam evidente, um ciclo que poucos compreendem. Observar esse tipo de comportamento, essa sorte, esse ideal, em si, já é dignificante. Vivenciá-lo, uma loteria.

Não importa quantos relacionamentos tivemos na vida. Reconhecemos aquela pessoa que mais nos mexeu. Aquela que ainda vai nos procurar à noite, nos sonhos mais (ou menos) inocentes, independente do fato de estarmos junto a ela. Não há coisas como ‘o grande amor’. Amor é grande por definição. As demais experiências que tivemos foram paixões acaloradas, carnais, brutais, infelizes, comprometidas, infantis ou inesquecíveis. Mas paixões.

O amor nos consome. Faz doer o peito quando distantes e, quando próximos, faz doer também, por conta do medo de perder um ao outro. Amor é banal, sentimental, abobalhado, a ponto de achar belo ou engraçado o despentear natural dos cabelos do sono, o primeiro hálito matinal ou as belezas não tão perfeitas, mais claras à luz do dia.

Buscaremos o amor enquanto estivermos vivos. Quer admitamos ou não. Tudo tende aos pares. Nossas mãos, narinas, olhos e ouvidos estão aí para provar que nossas bocas e sexos buscam incessantes complementos. A verdade é que poucos de nós o encontraremos. Poucos têm essa sorte. Os demais encontrarão nas paixões duradouras, corretas ou convenientes, relacionamentos para muitos anos. Talvez uma vida toda. E viverão bem. Talvez felizes. Não há nada de mal nisso. Sorte foi criada para pertencer a poucos, caso contrário, não faria sentido.

O amor é a centelha que nos mantém, juntos, à cama, como animais insaciáveis. Ele também mantém acesa a libido nos anos mais ‘ingratos’ de nossa ‘pré-despedida’, quando não possibilitando os ‘fins’, sugerindo brincadeiras sacanas que só pertence aos dois presentes. O amor é a beleza que atrai na juventude e o conteúdo de renovação que mantém o interesse até o fim da vida. O amor é tecnologia, didática, kamasutra, evolução.

Alguns chegam a dizer que felizes são os que não amam. Estes, nunca amaram. Se o fizessem, saberiam que a dor e o gozo de um sentimento, tão grande quanto vidas inteiras, não se resumem a apenas um lado. Saberiam que, tal qual a vida, ele é feito de construções, decepções, redenções, abdicações e desculpas. Muitas desculpas. Inúmeras, porém sinceras.

Não diria ‘eu te amo’ para afagar ouvidos. Não o diria, também, como uma prova sonora e pessoal de sensação. O amor não é expresso na vontade de não sair da cama, por estar acompanhado, mas na plena certeza de que, se possível, nada mais seria necessário, além do corpo quente por sobre seu peito, envolvido em seus braços. As palavras são opcionais.

Extraído do: Diário de um gordo (em dieta)

2 comentários:

Anonymous disse...

Ananda, confesso que fiquei feliz em você ter repostado meu texto por aqui. Parabéns pelo blog. E espero que você continue acompanhando a coluna...

Natália disse...

Uau! Muito legal!
Estou te seguindo, ok?
Abs