Não sou o que você sonhou?

É muito difícil para as mães perceber que seus filhos cresceram, que eles fazem escolhas, têm desejos, prioridades diferentes daquelas sonhadas e idealizadas desde o ventre. Nem de longe sou o que minha mãe sonhou, nem de longo alcanço as expectativas da tão idealizada filha caçula, ela vive dizendo que eu dou trabalho, e não adianta contestar, mas sinceridade? Ao meu ver, não dou trabalho nenhum, sou apenas diferente e desejo coisas diferentes, e dificilmente sou respeitada por fugir à regra, por ser a 'estranha', ou na pior das hipóteses; a ovelha negra da minha família. 

Tentam me convencer da minha incapacidade de gerir a minha própria vida, tentam me defender de mim mesma, e em meio a tantas tentativas o meu eu se perde por aí. Se perde em desejos frustrados, palavras 'vomitadas' em meio à crises de raiva, me perco sem volta, por um caminho ensurdecedor, não ouço mais a voz das minhas próprias palavras, a não ser quando grito, na tentativa de ser ouvida; Não há comando certo que possa me calar, não há possibilidade alguma de me curvar a uma vida que não escolhi para mim, quero a tranquilidade de não me preocupar com os detalhes estressantes do dia-a-dia, quero tempo para escutar o canto dos passarinhos. 

Para me manter vivendo, infelizmente, tenho que me adaptar a essa prisão. Minha voz estará rouca até o momento em que poderei gritar aos sete ventos, em cima da minha colina, o quanto eu posso ser feliz sendo do jeitinho que sou.